Foi, aliás, em defesa deste princípio que, diz, as portas do segundo canal se lhe fecharam quando, após um ano como director de um jornal, voltou à RTP: «O que era normal então, na RTP, era ser-se submisso com os detentores do poder».
O segundo regresso à RTP, depois de Washington, seria, no entanto, bem mais amargo. A visita do então primeiro-ministro António Guterres aos Estados Unidos foi o seu último trabalho como correspondente. Logo a seguir chegou a ordem da administração da RTP para voltar imediatamente a Lisboa. Era o culminar de um processo que se arrastava: «Muitas das peças que mandava não eram emitidas».
Mário e a administração entraram num período de litígio: «Puseram-me vários processos disciplinares». Foi encostado à prateleira e posto num edifício em frente à antiga sede na 5 de Outubro onde tinha um gabinete, mas nada que fazer. A RTP sempre foi célebre pelas suas prateleiras.
Num estado de espírito próximo da depressão, Mário Crespo telefonou ao então director de Informação e Programas da SIC, a pedir emprego. De um dia para o outro, o jornalista saldou as contas com o seu passado de quase 20 anos na RTP e o processo judicial que interpôs contra a empresa levou o tribunal, anos depois, a dar-lhe razão e obrigar a RTP ao pagamento de uma maquia perto dos 20 mil contos.
O «dossier» Crespo, durante esses anos, é para os dois lados da barricada um volume negro, para esquecer. Arons de Carvalho, o então secretário de Estado da tutela e deputado socialista, visado directamente pelas críticas, recusou sempre publicamente a ideia de que o jornalista tivesse sido vítima de censura.